As sociedades capitalistas modernas ocidentais foram, ao longo do século XX, sacudidas por eventos catastróficos e traumáticos, como o Holocausto em território europeu, e as Ditaduras Militares na América Latina, acontecimentos que, desafiando qualquer tentativa de representação, convocam os(as) sobreviventes ao seu testemunho, como necessária luta histórica contra o seu esquecimento. Nesse sentido, a literatura, como forma figurada da memória, constitui instrumento de luta contra a injustiça e a favor da reparação, como que ocupando o vazio deixado pelo testemunho jurídico, que, diante dos escombros da história, ou se cala ou é calado pelo poder político constituído. Contra o recalque patrocinado por nossas elites impõe-se a literatura testemunhal, como é o caso do livro Em câmara lenta, de Renato Tapajós, objeto de análise sociológica da apresentação do professor Enio Passiani a ser debatida.