General Info
Esta tese investiga os dilemas que persistem no capitalismo brasileiro do século XXI, buscando compreender por que a estrutura econômica do capitalismo brasileiro manteve-se resistente às principais mudanças ocorridas durante os anos 1990 e 2000. O aspecto considerado determinante na continuidade de trajetória do capitalismo brasileiro diz respeito à permanência de vícios institucionais (big business bias) que favorecem grandes grupos econômicos no acesso a recursos essenciais para a atividade econômica: acesso a capital, inovação e relações interfirmas. Esses vícios criam entraves que dificultam a geração de novas riquezas e a diversificação da atividade econômica. Em contraponto à visão usual, que atribui esses entraves à ineficiência das instituições de mercado, a tese enfatiza a permanência do bias como resultado de dinâmicas sociopolíticas entre Estado, grupos econômicos tradicionais e empresários da nova economia. Por um lado, permanecem os grupos econômicos, cujas atividades concentram-se na produção de commodities e bens de baixa e média intensidade tecnológica. Por outro lado, emergem os empresários de pequeno porte que, por meio da adoção de novas tecnologias e novos modos de organização da produção, trazem o potencial para a inovação e transformação do capitalismo brasileiro. Já o Estado, encontra-se embebido nesse dilema, articulando demandas díspares e dispersas em relação aos rumos do capitalismo. A tese revela que, apesar de o aumento dos índices de empreendedorismo e inovação na última década, o empreendedorismo brasileiro está longe de ser um lócus para a inovação e transformação da atividade produtiva. A entrada de novos empreendedores deu-se muito mais pelas brechas de expansão, de um modelo de capitalismo já consolidado, do que pelas oportunidades de um capitalismo em mudança. Por isso, a análise permite concluir que as dinâmicas de mercado não oferecem possibilidades para a ruptura com o modelo existente. Já a análise pela ótica do Estado, revela que, embora a plataforma desenvolvimentista, nos anos 2000, não contestasse a mudança para a economia de mercado, os rumos dessa mudança passaram a ser cerceados pelo Estado. As políticas industriais implementadas não visavam a ruptura com a ordem hierárquica estabelecida, mas a defesa deliberada da convivência entre grupos tradicionais, os campões nacionais, com o empresariado de base tecnológica. Com isso, o fortalecimento das capacidades estatais não foi acompanhado do enfraquecimento dos obstáculos para a atividade econômica. Ao contrário, ao tentar prevenir as descontinuidades decorrentes de uma transição para a economia de mercado, o estado acabou por contribuir para a permanência de dinâmicas hierárquicas e excludentes no capitalismo brasileiro. A principal conclusão é que o capitalismo brasileiro encontra-se diante de uma continuidade permeada por dinâmicas complexas e heterogêneas, abertas contudo ao jogo das disputas de interesses e às escolhas políticas.