General Info
Este trabalho procura uma aproximação ao estudo etnográfico do estado, a partir da análise da execução de uma política pública. O trabalho de campo que dá a origem a esta pesquisa foi localizado, principalmente, nos escritórios da Comisión Municipal de la Vivienda da cidade de Buenos Aires, aonde acontecia a execução dessa política habitacional chamada de autogestão. Partindo dessa experiência, nós procuramos mapear a trajetória dessa política desde sua origem .como proposta de organizações sociais., até o começo do seu funcionamento, com suas reformas sucessivas na fase precedente à construção das primeiras moradias. Por outro lado, este trabalho procura refletir sobre o Estado a partir da dinâmica gerada em torno do complexo sistema dos trâmites ao redor do qual girava a cotidianidade do processo de implementação da política no momento estudado. A intervenção de destinatários e atores estatais nas rotas dos trâmites determinou maneiras diversas e sempre únicas; aqueles percursos permitiram explorar formas diversas do estado, de sua operação, de seu maleabilidade e de sua rigidez. Antes de uma análise do impacto desta política, ou de um olhar centrado em um dos grupos diversos dos atores que participaram na execução, a pesquisa foi guiada por uma preocupação pelo estudo de alguma racionalidade ou de um cosmovisão específica do Estado contemporâneo. Nós discutimos que a dinâmica do acompanhamento dos trâmites, e das disputas políticas entre os diferentes setores progressistas que se ocuparam da implementação desta política, podem ser apresentadas a partir da articulação das noções nativas de gestão e política. Durante o processo da implementação, diferentes pessoas, espaços, momentos, foram descritos alternativamente com respeito à política e à gestão. Para alguns o Estado era essencialmente política, para outros pura gestão. Estilos diferentes do governo enfatizavam de maneira particular uma ou outra dimensão em seus discursos, e na maneira de executar esta política. Assim, estas noções apareciam as vezes em uma separação radical, outras em contato, e também confundidas. A presença de uma racionalidade baseada na separação daquelas idéias .o que chamei de pensamento estatal. é aqui explorada a partir da participação das pessoas nas rotas dos trâmites; do acompanhamento do trabalho diário dos funcionários com relação aos destinatários, das discussões entre autoridades, e a organização institucional. Cada situação permitiu iluminar uma outra faceta da operação do funcionamento do par política e gestão, e foi a partir daquelas relações de oposição, de oscilação ou de redundância que nós consideramos um racionalidade e uma linguagem que estão além das disputas dos diferentes atores particulares. A análise de dois movimentos que parecem ser centrais na racionalidade do estado permitiu, ainda, apresentar a forma em que a implementação de uma política está sujeita ao avanço simultâneo da política e da gestão. Em um caso, é a politização da gestão; em um outro, da construção de uma ordem de gestão que exclui a política. Aqueles dois movimentos são considerados também como epistemologias próprias dos estudos que têm ao Estado como objeto.