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Esta tese propõe a ideia de uma antropologia anormal. A partir de uma extensa revisão teórica sobre como a antropologia cultural se aproximou da “anormalidade” e em diálogo com as contribuições da Teoria Crip, das antropologias da saúde mental e deficiências, e da cibernética batesoniana, argumento pela necessidade de uma transição de uma “antropologia sobre o anormal” para uma “antropologia anormal”. Nesse movimento especulativo, a anormalidade deixa de ser um objeto do conhecimento antropológico e passa a ser compreendida como um evento com o qual o(a) antropólogo(a) se engaja. Através dessas lentes, realizo uma etnografia da experiência de pessoas internadas em uma enfermaria psiquiátrica masculina. Acompanhar “pacientes agudos” em suas práticas de estranhamento da realidade revela o que a experiência anormal pode conter de destruição e criação; a crise psiquiátrica passa a ser lida a partir de seu potencial de crítica social. “Estranhar” deixa de ser um privilégio antropológico e passa a ser entendido como uma prática difusa pela qual essas pessoas desnaturalizam o real. Atento aos discursos e práticas com que os pacientes se engajavam dentro e fora das consultas médicas, narro as tensões entre cuidado e controle no cotidiano hospitalar. Por um lado, os internos sofrem restrições disciplinares típicas do enclausuramento institucional. Por outro, promovem estratégias criativas na busca por habitabilidade durante sua estadia. Descrevo alianças interespecíficas entre pacientes e os pequenos animais que habitavam o pátio da enfermaria. Discuto como os internos negociam entre si e com o aparelho psiquiátrico suas performances de gênero. Mostro como essas pessoas subvertem a hierarquia entre psiquiatras e pacientes por meio da mobilização de uma “economia afetiva da desconfiança” e apresento como elas se apropriam do tratamento psiquiátrico, seja por meio de sua espiritualização, seja pelo contrabalanceamento dos “efeitos colaterais” dos psicotrópicos com o uso de cigarros e café. Por fim, compreendo o tratamento psiquiátrico como um processo cismogenético, apoiado sócio-tecnicamente no uso de psicofármacos para a modulação intensiva dos pacientes, tendo como objetivo atingir o “ponto de alta” dos internos. Ao longo da tese, a ideia de “intensidade” se revela uma categoria analítica central para se pensar a experiência das pessoas em situação de internação psiquiátrica.

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