General Info
Nesta dissertação discuto o engajamento de parte dos indígenas e camponeses bolivianos na construção de um Estado soberano. Este engajamento tem seu contexto na eleição do primeiro presidente indígena do país, Evo Morales Ayma, em 2006, e na aprovação da Constituição Plurinacional do Estado em 2009, que visou, entre outras coisas, “refundar o país” e emancipar politicamente os povos e nações indígenas, reconhecendo-lhes direitos específicos. “Refundar o país” tinha o significado de superação do que se denominava como Estado e/ou República colonialista, e a palavra de ordem pós constituição foi a descolonização da sociedade, e em especial, do Estado. Dentre os múltiplos esforços para a construção do novo Estado Plurinacional, evidenciou-se em minha pesquisa etnográfica o Vice-Ministério da Descolonização (VMD), instância do governo de Evo Morales incumbida de formular um programa de reformas no Estado que se adequassem à exigência de descolonizá-lo. Este estudo, no entanto, não se resume a debater isoladamente os trabalhos realizados por esse Vice-Ministério, mas busca entendê-lo inserido nos conflitos existentes no país no que concerne à temática indígena e aos diversos projetos políticos em torno dela. As divergências sobre com qual vocação política devem os indígenas se engajar, no que tange a sua emancipação política, criaram uma cisão entre os movimentos sociais com características étnicas, colocando de um lado reivindicações autonomistas por parte de alguns indígenas e da outra parte reivindicações de ser o indígena um sujeito político apto ao governo soberano. A oportunidade de explorar esta divergência política conduziu este trabalho a interpretar o engajamento dos indígenas no Estado, em especial no VMD, dentro de seus contextos de poder, levando em consideração as disputas nacionais, assim como o lugar que a Bolívia ocupa dentro das relações de força no plano internacional.