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Catolicismo e diversidade sexual e de gênero vivem uma relação conflitante. Há algumas décadas, grupos minoritários de pessoas que se declaram simultaneamente católicas e LGBT têm se articulado para conciliar a vivência destas duas dimensões de sua existência “fora do armário”. Esta dissertação é um estudo sócio-antropológico do primeiro grupo de Católicos LGBT do Brasil, cujo objetivo principal é analisar e explicar os modos através dos quais seus participantes exercem e agenciam o pertencimento a uma instituição que simultaneamente os constitui e os rejeita. Utilizando uma metodologia qualitativa e as técnicas da observação participante e das entrevistas semiestruturadas, a pesquisa investiga as trajetórias religiosas e afetivas dos participantes do grupo, bem como a história que a agremiação tem percorrido desde sua fundação até hoje; analisa as interações e as formas de sociabilidade que perpassam este coletivo católico LGBT; e, por último, investiga os modos pelos quais o grupo entende socialmente “ser católico” e “ser LGBT”. Através de duas categorias analíticas – subversão e sobrevivência; e believe and belong – esta pesquisa demonstra que uma adequada compreensão deste tipo de agrupamentos requere ultrapassar modos binários e fixos de análise, pois estes não respondem de forma suficiente às intersecções existentes entre religião e diversidade sexual e de gênero. Por conseguinte, ficará em evidência que viver o catolicismo sem renunciar ao exercício da sua orientação sexual e/ou identidade de gênero minoritária exige dos participantes lidar com diversas tensões e conviver com uma certa ambiguidade. Entretanto, a despeito destas dificuldades, esta é a que garante de alguma maneira a sobrevivência de sujeitos que sofrem este tipo de exclusão. Neste sentido, conclui-se que o grupo Católico LGBT surge como uma alternativa e como um novo espaço de socialização, capaz de criar novas narrativas, de suscitar outros vínculos e, sobretudo, de manter o elo com o catolicismo – embora de modo ressignificado.