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Este trabalho tem o intuito de discutir a complexidade da dinâmica família-trabalho-educação, buscando perceber de que forma famílias de trabalhadores, impactadas pela implantação de um pólo automotivo, reagem às novas exigências de escolaridade impostas pelo sistema produtivo. As fábricas reestruturadas e enxutas passaram a requerer um “novo perfil profissional qualificado e competente” e estabeleceram um novo patamar mínimo de escolaridade: o Ensino Médio. A região Sul Fluminense, um Distrito Industrial, tornou-se um lócus privilegiado para a observação dos impactos sociais e econômicos de novas formas de produção a partir da implantação de duas montadoras do setor automobilístico na localidade: a Volkswagen no ano de 1996 e a Peugeot-Citroën em 2001, nos municípios de Resende e Porto Real, respectivamente. Ambas as montadoras se propõem a operar a partir da idéia de produção enxuta, isto é, altos níveis de produtividade e reduzido número de trabalhadores, estabelecendo um discurso de maior participação e comprometimento dos trabalhadores com os objetivos da empresa. O foco principal da pesquisa é compreender de que forma os trabalhadores percebem a importância da educação no mercado de trabalho local, o posicionamento da escolarização dentro dos projetos familiares e suas estratégias de atuação, diante deste elemento que passou a ser central na constituição do “ser trabalhador”: a “educação”. Metodologicamente, a pesquisa combina recursos qualitativos e quantitativos. Qualitativamente, foram realizadas entrevistas guiadas com trabalhadores e suas famílias, enfocando suas trajetórias escolar e ocupacional, as expectativas com relação aos filhos e seus projetos familiares; e entrevistas com atores da comunidade escolar local. Quantitativamente, realizaram-se comparações estatísticas, com base em dados regionais e municipais oriundos do Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil e outras fontes, bem como de dados fornecidos pelo survey com perfil dos metalúrgicos da Volkswagen. As novas concepções de qualificação colocadas no cenário local a partir do modelo de produção reestruturado, além de colocar as estratégias educativas no centro das estratégias de reprodução familiares, estabeleceu um novo padrão escolar a ser atingido pelos próprios trabalhadores. Ser “trabalhador de fábrica” é, por motivos econômicos e sociais, possuir status social, o que faz com que os trabalhadores se tornem trabalhadores-estudantes, a fim de ingressar ou se manter neste mercado.

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