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O presente projete parte de uma descrição da longa e dura transformação nas abordagens da saúde mental no Brasil, que percorre quase dois séculos e que nos levou daquilo que chamamos de "abordagem sanitarista” - orientada pela limpeza do corpo social - através da abordagem psiquiátrica - orientada pela higienização do corpo do doente - para a abordagem integralista. Representada pela Reforma Psiquiátrica, essa nova forma de conceber e tratar a loucura rompe com o paradigma subjacente aos dois momentos anteriores, ambos fundados sobre a segregação e redução da pessoa à sua condição psíquica anômala. Essa periodização inicial nos permite então localizar num espectro mais amplo a atuação de uma instituição em particular, o Centro Psiquiátrico do Rio de Janeiro, palco do projeto Harmonia Enlouquece, que constitui o foco de nossa atenção. Nosso objetivo é operar uma mudança de perspectiva que torne possível considerar o projeto Harmonia Enlouquece como um sítio singular em que algo de inesperado possa emergir. Assim, nos utilizamos da periodização de abordagens da saúde mental para introduzir uma problemática interna ao novo paradigma da saúde mental: a diferença entre a integralidade do tratamento e a integralidade do cuidado. Definimos provisoriamente o primeiro modelo como aquele que responde ao desafio de considerar a riqueza subjetiva do paciente a partir de uma pluralização na conformação das equipes técnicas, correlacionando a multiplicidade do indivíduo com a multiplicidade profissional. O segundo modelo - que não se contrapõe ao primeiro, mas o suplementa - adicionaria a essa abordagem multidisciplinar um lugar para práticas que não possuem uma finalidade explícita de tratamento, isto é, práticas que são igualmente endereçadas àqueles que não buscam ajuda para lidar com seu sofrimento ou dificuldades. Práticas que pertencem a qualquer um.

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