Através da etnografia de práticas artísticas, culturais e/ou festivas, este projeto de pós-doutorado pretende analisar, no contexto da cidade neoliberal, as recomposições materiais, sociais e políticas, onde está em jogo o lugar da contracultura, e mais amplamente dos mundos da arte. Enquanto, durante muito tempo, a contracultura foi motor de contestação e centro de experimentações artísticas, ela está hoje em dia cada vez mais domesticada pelas formas contemporâneas de produção da cidade. Para estudar esse processo de institucionalização, o projeto ambiciona desenvolver um estudo de campo na região portuária do Rio de Janeiro, onde foi implementada a operação de revitalização urbana Porto Maravilha, ao analisar como práticas artísticas, culturais e/ou festivas se inserem – esteticamente – na ordem da cidade neoliberal. Trata-se de questionar se essas práticas carregam um potencial emancipatório e crítico ou, pelo contrário, participam do desenvolvimento da cidade neoliberal. Supõe-se que analisar os lugares onde ainda existe uma cultura viva, em particular experimental e crítica, permite entender as ambiguidades da cidade neoliberal, onde os espaços de liberdade desaparecem à medida que a gentrificação se expande. Assim, esse projeto pretende trazer uma contribuição valiosa aos estudos das relações entre arte, espaço e política, ao mostrar como hoje questões urbanas e culturais são inseparáveis. O projeto desenvolve-se em torno de uma metodologia própria que se insere numa abordagem de pesquisa-criação, contribuindo para as reflexões sobre a relação entre arte e ciências sociais, e como esta se articula concretamente no processo de investigação.