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Fruto de extenso trabalho de campo, a tese apresentada tem como objetivo, a partir de relatos etnográficos, introduzir o leitor a um conjunto conceitual e senciente de um modo de vida amazônico em muito ligado aos rios e às práticas de convívio interespecíficas, nas quais o humano não está acima de outros seres – sejam plantas, animais, entidades ou rios –, mas justamente inserido em uma malha vital de relações. Busca-se relacionar as vivências e aprendizados do trabalho de campo com a teoria antropológica contemporânea, sobretudo no escopo do que se tem chamado antropologia multiespécies. A tese tem como eixo o rio e os habitantes de suas margens no município de Laranjal do Jari (AP). Situados no interlúdio entre a terra e a água, o urbano e o rural, versáteis e maleáveis como a lama espessa que se acumula e seca nas margens, os moradores de Laranjal do Jari destacam-se pela relação visceral com o rio que dá nome à cidade. Inicialmente, destaca-se o rio como linha de fronteira entre dois estados – o Amapá e o Pará – e entre modelos de urbanização distintos com uma mesma origem: o monumental Projeto Jari e seu drástico impacto sobre a região. Em seguida, descreve-se a saga do antropólogo em busca de seu objeto de análise, quando já não se distingue entre casa e campo, e se é atravessado por uma enchente, assim descortinando diferentes modos de se relacionar com o rio – tanto na beira como no agreste. A segunda parte da tese é fruto de um trabalho de campo mais recente e imersivo, no qual o antropólogo acompanhou um grupo de pescadores em uma expedição de uma semana, entre outras experiências. Inicialmente, descreve-se o bairro Nova Esperança, no município de Laranjal do Jari, e o igapó ou ilha que dá acesso ao rio Jari por terra, no verão, e funde-se a ele no inverno, bem como algumas das práticas dos moradores, como a pesca do tamatá e a piracaia. Por fim, narra-se, através da experiência de uma pescaria nos lagos de uma antiga plantation de arroz, uma história de ressurgência a partir das ruínas, algo que pode ser de alguma valia quando devemos todos aprender a viver em tempos de catástrofes. Os resultados apresentados buscam situar a Amazônia no centro de uma discussão global sobre clima e ecologia, apresentando, a partir da interação com habitantes que construíram suas vidas em cima dos destroços de grandes projetos, algumas ideias e alternativas para construir habitabilidade e futuros possíveis em um mundo em ruínas.

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