A pesquisa propõe uma sociologia do conhecimento e do imaginário esotéricos do Renascimento à modernidade, a partir do enfoque da passagem das cartas de jogar e do tarô de baralhos lúdicos a oráculos. As imagens do tarô, de sua iconografia a seu simbolismo, estarão em exame para apontar como o imaginário moderno constitui uma sobrevivência de formas renascentistas, medievais e antigas de entendimento do mundo e que, com isso, constroem a modernidade, entendida como uma quadratura histórica que se torna organização sócio-existencial a partir das projeções de futuro como faculdade central, seguindo as pistas de Reinhart Koselleck. A pesquisa tem por objetivo entender os diferentes 'horizontes de expectativas' em diferentes temporalidades históricas a partir do exame de diversos manuais de cartomancia e relatos históricos sobre consultas oraculares. Assim, as diferentes formulações imaginárias sobre a iconografia das cartas de jogar e do tarô, bem como as consultas oraculares e sua semântica interna estarão em exame para entender o que se pensava e pensa sobre o futuro, tão enigmático quanto revelador. Procuro, com a pesquisa, entender: a relação da modernidade com o esoterismo; como o pensamento esotérico prescinde da cosmovisão renascentista astrológica que, ao mesmo tempo, é reinventada e passa a se tornar uma forma de conhecimento particular; entender as imagens cosmológicas no centro de uma teoria social que permita lançar pistas acerca da sobrevivência dessa epistéme no mundo contemporâneo. Para isso, será necessário: (i) demonstrar como o imaginário renascentista e a cosmovisão astrológica influenciaram a construção de diversos baralhos de cartas; (ii) entender como as imagens vão se tornando, séculos depois, secularizadas, ganhando novos sentidos a partir de diversos fabricantes de baralhos e (iii) como diversas tentativas, desde o século XIV, de imaginar futuros a partir de cartas e de criação de narrativas poéticas por meio de cartas começam a se confundir a partir dos jogos de cartas com a posterior institucionalização da prática da cartomancia, no século XVIII. A pesquisa documental e histórica será necessária para construir as bases de uma sociologia do conhecimento e do imaginário esotéricos; entendendo não apenas como as imagens são centrais para o pensamento esotérico, mas também a faculdade de construir narrativas sobre o futuro a partir de jogos com imagens. A pesquisa transita pela sociologia do conhecimento, passando pela temática das imagens, do imaginário, do simbolismo e dos jogos, bem como por aportes da sociologia da religião.