General Info
Exploro neste projeto um espaço de trabalho aberto nas últimas décadas pelas pesquisas que venho realizando e pelas teses e dissertações que tenho orientado, onde foram discutidos alguns problemas suscitados pela análise dos discursos e das práticas sociais dos chamados ?patrimônios culturais?. Nosso ponto de partida tem sido a problematização das concepções jurídicas dos patrimônios, que se fazem presentes nos discursos das diversas agências de preservação. Embora evidentemente necessárias no horizonte das políticas de patrimônio desenhadas e implementadas por essas agências, elas no entanto se tornam um obstáculo quando se busca explorar o que chamei as ?concepções nativas de patrimônio?. Embora o diálogo entre pesquisadores e técnicos de preservação seja de fundamental importância, cabe no entanto assinalar que esse diálogo, para que seja produtivo, deve ser pautado não pelas semelhanças, mas pelas diferenças entre os horizontes sociais e intelectuais de pesquisadores e técnicos. A noção de uma ?concepção nativa de patrimônio? é crucial para que se possa desestabilizar as concepções correntes sobre patrimônio que circulam na ideologia e nas práticas das agências de preservação. Nesse sentido, os estudos que no período em foco foram produzidos, vieram iluminar diversos perfis semânticos que a categoria ?patrimônio cultural? pode assumir em diferentes grupos e segmentos sociais envolvidos em processos de patrimonialização patrocinados por agências de preservação. Na exploração teórica e metodológica dessas concepções desenhou-se uma nova dimensão, o tempo, ou mais precisamente as concepções de tempo expressas nos empreendimentos de patrimonialização, seja por parte das populações que são alvo e sujeitos desses empreendimentos, seja por parte daquelas agências de preservação. Nesse contexto, a noção de ?regimes de historicidade? desempenhou uma importante função na descrição de análises desses discursos e práticas, na medida em que permitiu entender de que forma a dimensão do tempo opera uma diferenciação significativa entre esses discursos e práticas. Embora outras dimensões revelaram-se igualmente importantes, a dimensão do tempo nos pareceu crucial na diferenciação descritiva e analítica dos discursos patrimoniais das agências de preservação e as concepções nativas de patrimônio. Embora nas primeiras predomine uma regime de historicidade marcado pela ênfase no futuro (um ?regime futurista?) ou uma valorização obsessiva do presente (o chamado ?regime presentista?), no caso das concepções nativas de patrimônio o tempo pode assumir uma dimensão não histórica, um concepção cíclica do tempo. Essa divergência evidentemente não significa que aquelas populações que são alvo de processos de patrimonialização não sejam capazes de acionar em seus discursos uma temporalidade histórica e uma vocabulário de direitos, em consonância com as agências de preservação. Percebem que para a própria reprodução de seus universos culturais tradicionais necessitam da garantia que lhe pode fornecer o Estado e suas políticas de preservação. O projeto que conduzi trouxe resultados produtivos para o debate público e acadêmico sobre os processos de patrimonialização..