As celebrações do Banho de São João em Corumbá, Mato Grosso do Sul, realizadas por devotos de São João Batista, incluem a confecção e decoração de mastros e andores, a realização de novenas, o compartilhamento de alimentos, culminando em cortejos para o batismo ou banho da imagem de São João Batista nas águas do rio Paraguai, na noite de 23 de junho. Por outro lado, dimensões relacionais e as mais variadas formas de interação entre devotos e santos são parte constitutiva de sua celebração, o que inclui uma complexa comunicação entre eles, por diferentes linguagens, meios e sinais, destacadamente, imagens escultóricas e bandeiras do santo. Nesta Tese, compreendo tais celebrações no campo das teorias antropológicas dos rituais e de uma antropologia da devoção, enfatizando que o ritual não apenas manifesta ou evidencia, mas, também organiza, opera, reformula criativamente algumas relações, tendo eficácia em si, fazendo coisas. Neste sentido, meu esforço é refletir, teórica e etnograficamente, que as celebrações são realizadas pelo que significam ou representam, e, também, pelo que fazem. Para tanto, proponho pensar etnograficamente as distintas formas de interação entre devotos e santos, o papel que desempenha o festeiro e os objetos e os efeitos performativos da festa. Com foco na festa da Comunidade Monte Castelo, do festeiro Alfredo Ferraz, e de relatos e conversas com alguns festeiros e devotos, da observação direta e participante, analisarei o que a festa significa, representa, evidencia e faz, pensando-a de modo o mais articulado e menos dicotomizado possível.