General Info
O universo rural brasileiro apresenta variadas configurações que hoje estão associadas à ideia de “agronegócio”. Esta pesquisa visa indicar rupturas e descontinuidades nesse processo de transformação no campo que “modernizou” as técnicas de produção agrícola, acentuando uma estrutura fundiária concentrada. Minha tese foi realizada no Norte do Mato Grosso, região que sofreu um rápido processo de transformação a partir dos anos 1970, em virtude da consolidação de grandes lavouras mecanizadas em áreas até então tomadas pela floresta e por esparsa população. Boa parte dos colonos atraídos para ocupar essa “nova área” foram arregimentados na Região Sul, pertencentes a famílias de imigrantes italianos e alemães que começaram a chegar ao país na segunda década do século XIX. No Cerrado, passaram a ser chamados de “gaúchos”, termo que alude à região de origem. A descrição desse contexto busca explicitar alguns aspectos que parecem ser fundamentais para definir os atributos sociais dos “gaúchos” e suas distinções internas. O caminho para construir essa análise percorreu as formas de sociabilidade características dos “gaúchos”, abrangendo festas e situações cotidianas. Através desse estudo, foi possível perceber como as distinções entre os grandes produtores estão relacionadas a sua conduta no âmbito dos negócios, sobretudo nas questões relativas às dívidas que são constitutivas das operações produtivas nesse contexto. Quando se fala em “negócios”, não estão em jogo somente aspectos econômicos - no sentido mais estrito -, mas também são fatores determinantes, nessas operações financeiras, princípios de moralidade e as reputações desses “agricultores” construídas no âmbito local.