Neste trabalho, refletimos acerca das questões sobre tradição e modernidade nas percepções artísticas e culturais da tradição sineira na cidade de São João del Rei no estado de Minas Gerais. Trazemos como material de análise o EP visual intitulado “Sinógeno”, que, ao ser publicado em março de 2021, trouxe uma série de repercussões, dentre elas algumas controvérsias, em torno do possível caráter artístico ou sacrilégio contido na obra. Aqui, discutiremos através deste objeto, temáticas acerca da percepção mineira a respeito do cosmopolitismo e da experimentação artística, relacionando os conceitos de recado de José Miguel Wisnik, como também o entre-lugar das concepções de local e global. Passando brevemente pelo contexto histórico de Minas desde o processo de exploração das terras, pela influência das Igrejas e da religião católica no processo de construção da região, até experimen-tações sonoras, visuais e performáticas contemporâneas, aborda-se neste trabalho a ideia de movimentos e narrativas artísticas em São João del Rei e outras cidades sineiras. A sociabilidade inerente à linguagem dos sinos, que atravessa o local, a paisagem sonora (SCHAFER, 2001) dos toques, assim como a imaginação dos ouvintes, trazem à tona reflexões sobre os diversos fazeres e saberes artísticos envolvidos nessa tradição. Argumenta-se que a cultura e a tradição sineira e mineira estão sendo negociadas cotidianamente pelas pessoas que as inventam e movimentam por meio das mediações que operadas em suas relações. Nesse sentido, a polêmica em torno do Sinógeno expressa esse aspecto relacional na produção de agenciamentos e significados a partir das obras de arte, seja por meio da tentativa, de alguns, de acusá-lo de sacrilégio, seja pela de outros, de afirmar e reivindicar a expressão dos pertencimentos e contribuições de sons e ritmos africanos em território brasileiro como bases da construção da nação. Analisemos, portanto, a forma como a cultura sineira se manifesta em São João Del Rei, em sua emergência, institucionalização, e ressignificação.