Informações Gerais
Tem por objetivo explorar o rendimento analítico da chamada “teoria mimética”, tal como elaborada por René Girard, na investigação antropológica contemporânea. Apesar de ter sido formulada em um diálogo intenso e constante com autores clássicos e centrais da antropologia (como Frazer, Durkheim, Mauss, Evans-Pritchard, Victor Turner, Lienhardt, e Lévi-Strauss , por exemplo), a teoria mimética ainda não foi devidamente debatida, sobretudo no Brasil, e tampouco sistematicamente confrontada com os recentes desdobramentos teóricos e etnográficos da nossa disciplina. Sugerimos que ela possa ter uma função revitalizadora na investigação de uma série de fenômenos fundamentais para a pesquisa antropológica hoje como, por exemplo, o crescimento das religiões políticas, a questão da violência, do terrorismo global e das guerras, a expansão exponencial da produção industrial de objetos e do consumo de massa, o fenômeno das redes sociais da internet, entre outros. Ao lado dessas questões muito gerais, há também possibilidades de reflexão mais especificamente aplicadas ao campo da etnologia indígena. Uma primeira etapa dessa pesquisa precisa passar por uma reavaliação do modelo do predação ontológica e do perspectivismo ameríndio (cf E. Viveiros de Castro) à luz da teoria girardiana do mimetismo e do sacrifício. Uma segunda etapa consistiria em aprofundar o trabalho, apenas iniciado por Girard, de realizar uma crítica da análise lévi-straussiana do corpus narrativo mitológico sul-americano, reintroduzindo a dimensão da violência, expurgada pelo modelo estrutural, mas fortemente presente no modelo da predação ontológica. Enfim, creio que da conjugação desses dois conjuntos de temas pode resultar alguma contribuição interessante tanto ao campo mais específico da etnologia indígena, quanto ao domínio mais geral da teoria antropológica.