Informações Gerais
O objetivo deste projeto é analisar a coordenação entre crítica, força e paz nas disputas cotidianas no Rio de Janeiro. Busca-se entender como as diferenças entre as pessoas são efetivadas como disputas, pressupondo soluções negociadas, mas ainda assim conflituosas, em um investimento energético na direção não da força física, mas abstratamente, configurando um conjunto de dispositivos e gramáticas do que chamaremos de violência modulada, isto é, uma série de formas controladas de reação forte à ação do outro. Se é verdade que, como afirmam Boltanski e Thévenot, os atores sociais são dotados de ?capacidade crítica?, é também verdade que sua operacionalização é uma evidente fonte de conflito e uma forma de agir contra o outro. De maneira que crítica e reação a ela lançam os atores em uma conflitualidade ao mesmo tempo pacífica ? porque regrada ? e lutadora. E essa forma modulada, então, é uma representação do uso da força igualmente chamada ?violência?, e em alguma medida se relacionada com a ideia de uma violência pública, mas é tornada controlável e relativamente pacífica. Em momentos assim, não entram em jogo apenas as formas clássicas de dispositivos morais, os accounts, as prestação de contas, mas também elementos como a problematização, a jocosidade, a desconfiança, a narratividade, a enrolação. De modo que brigas entre vizinhos, conflitos entre jovens em escolas, momentos de reivindicação política, settings de atendimento de funcionários (públicos ou privados), conversações, negociações comerciais, horas de lazer, uma série de formas de interação crítica que podem descambar para a violência, produzem uma gramática da modulação central na conflitualidade urbana. É por meio de formas não violentas de ser agressivo, de formas de lançar mão da força sem mobiliza-la no plano físico, que parece ser possível falar de algo que, inspirados em Albert O. Hirschman, chamaremos de slack moral, ou seja, uma economia de recursos de atuação moral no plano cotidiano.