Informações Gerais
Esta tese versa sobre razão e desejo nos relacionamentos afetivos-sexuais inter-raciais no Brasil e na África do Sul. Um relativo silêncio recobriu a análise qualitativa das relações afetivo-sexuais inter-raciais no Brasil, desde a década de 70. Esta tese retoma o tema em questão tendo como ponto de partida estudos recentes de orientação quantitativa, que, a partir do Censo de 1980 trouxeram dados que relativizam certas representações sociais correntes, quais sejam, a predominância dos casamentos homogânicos na sociedade brasileira, um número relativamente pequeno de casamentos inter-raciais, entre os quais prepondera a união entre homem negro e mulher branca. Visando reconstruir o percurso histórico da produção de certas representações sociais relativas aos relacionamentos afetivo-sexuais inter-raciais, recorreu-se aos escritos de autores clássicos da historiografia, da sociologia e da literatura brasileira privilegiando na leitura a inter-relação entre raça, as diferenças entre os sexos e erotismo. Essas representações são, em seguida, cotejadas com o trabalho de campo realizado no Rio de |Janeiro com pessoas que mantinham ou mantiveram relacionamentos afeivo-sexuais heterocrômicos. A dinâmica destes relacionamentos, depreendida do trabalho de campo, tanto permite atualizar o debate com os autores clássicos quanto evidenciar brechas, lacunas e possibilidades não referidas nessa literatura. Desejo e mobilidade social se constituem nos operadores lógicos através dos quais se pode organizar não somente a produção acadêmica e literária sobre o tema como igualmente as narrativas colhidas no trabalho de campo. Ao longo da tese há uma comparação subjacente com os Estados Unidos da América e África do Sul. O último capítulo da tese focaliza o contraste com a África do Sul utilizando a bibliografia e material empírico colhido na Cidade do Cabo. Neste capítulo, procura-se demonstrar como o desejo sexual entre homens negros e mulheres brancas, que no Brasil se apresenta como uma espécie de lacuna ideológica, surge no centro do palco das proibições fundantes do regime do apartheid.