Informações Gerais
O objetivo desta pesquisa é compreender de que modo os jovens narram o início de seus relacionamentos amorosos, e mais especificamente, a negociação do seu formato e status. O trabalho de campo foi feito através de entrevistas com 43 pessoas entre 19 e 31 anos, oriundas em sua maioria de camadas médias urbanas e escolarizadas, que já se envolveram em algum tipo de vínculo amoroso — no sentido mais amplo do termo, não importando o rótulo nem a duração. Concluo que estes jovens compartilham um script cultural sobre o engajamento amoroso, ou seja, um imaginário comum sobre o desenrolar “natural” dos relacionamentos, que fornece orientações sobre como se comportar, como se sentir, e como narrar suas experiências amorosas. Analiso este script enquanto instituição emotiva, ou seja, como um conjunto de interações socialmente organizadas que produzem relações, posições e sentimentos, e abordo os gestos trocados pelo casal, que são interpretados como sinais de que ambos estão interessados em desenvolver o vínculo. Uma característica central desse script é que o início dos relacionamentos amorosos é marcado por um período de indefinição, considerado necessário para o desenvolvimento da intimidade. Nesse período, por um lado, a seriedade do vínculo é construída através da troca de sinais de engajamento, fazendo com que as pessoas criem expectativas; mas por outro lado, o formato e o status do relacionamento ainda não está definido, de forma que nem sempre está claro para os envolvidos se suas expectativas são compatíveis. Observo que os entrevistados compartilham um estilo emocional que chamo de paradigma da responsabilidade afetiva, que é um modo em comum de lidar com as relações e com os sentimentos caracterizado por um sistema de valores, ideias e uma moral específica. Este paradigma, ao valorizar a comunicação verbal e responsabilizar as pessoas pelo significado do seu comportamento e pelos sentimentos e expectativas do outro, tem potencial para controlar parcialmente a incerteza, insegurança e ansiedade que pode rondar o período de indefinição. Porém, apesar de o paradigma da responsabilidade afetiva ser caracterizado por um ethos igualitário e pelo compromisso com a desconstrução dos estereótipos de gênero, homens e mulheres parecem se apropriar dele de formas diversas, e ainda estão em posições desiguais na hora de negociar a definição dos relacionamentos heterossexuais.