A tese está orientada pela busca por múltiplas possibilidades de respostas à pergunta etnográfica: Como o Nego Fugido é representado racialmente através de imagens produzidas no Brasil? Para isso, recorri a 4 filmes brasileiros e um acervo de 70 fotografias digitais com a estratégia de investigação etnográfica que possibilitasse criar dados sobre a representação racial do fenômeno Nego Fugido, dotado de regime de existência próprio para além do que a imagem captura. A análise antropológica parte do entrelace entre esses dados audiovisuais com a observação-participante e registros em diário de campo escrito e visual que realizei junto ao grupo desde 2012. Acompanhei as aparições do Nego Fugido in loco anualmente aos domingos de julho até 2020, assim como convivi com as pessoas de Acupe em janeiro, junho, julho e agosto de 2015, e por 46 dias entre janeiro, fevereiro e março de 2020, antes de deflagrada a pandemia do vírus deSars Covid-19. O corpus teórico visou a construção de uma perspectiva afrocentrada das ciências sociais, trazendo para o diálogo com os meus achados de campo os intelectuais negros como Achille Mbembe, Lélia Gonzales, Stuart Hall, Franz Fanon, Kabengele Munanga, Oyèrónkẹ ́ Oyěwùmí, Antônio dos Santos Bispo, Monilson dos Santos Pinto, Maria Elvira Benitez, etc. O objetivo da empreitada foi visitar os documentos audiovisuais desenhando uma perspectiva antropológica negra sobre os modos de representação racial de manifestações culturais amefricanas no Recôncavo Baiano, como o Nego Fugido. A tese compreende o Nego Fugido como aquele que não quer, e que muitas vezes não é capturado pela imagem. Ele se deixa capturar, mas não é capturado. Mostro aqui que, através das imagens, aprendi que perspectivas e conceitos que perpassam demarcadores sociais das culturas negras e de raça emergem e desaparecem, e outras questões sociais de gênero, classe e gerações são ressaltadas e escondidas em tensas relações entre os agentes produtores das imagens e os sujeitos representados, revelando um mundo social em perpétuo desequilíbrio. E Nego Fugido aparece como uma força contracolonial que desestabiliza a fixidez proporcionada pela captura da imagem