Informações Gerais
Este trabalho trata de refletir sobre a relação dança e guerra a partir de uma etnografia dos caboclinhos, na intenção de desenvolver uma antropologia das forças. Agremiação carnavalesca formada por homens, mulheres e crianças, os caboclinhos saem pelas ruas de Goiana, zona da mata norte de Pernambuco, fantasiados de índio, dançando, tocando com arcos e flechas nas mãos. A opção por refletir sobre a dança dos caboclinhos, a partir da relação entre os grupos, quer evitar a compreensão desta manifestação, exclusivamente, a partir das lógicas de organização interna e da descrição do que se move, no plano do visível, apenas. Para isso, foi necessário compreender as relações de aliança e inimizade que definem os grupos e estender o alcance da pesquisa até a jurema, complexo religioso de matriz afroindígena, que permite acessar forças de uma dimensão invisível, que também dança. Nossa análise etnocoreológica baseia-se, portanto, no entendimento de dispositivos coreográficos e descoreográficos nativos e de um processo de trocas centradas na dança, isto é, por meio de uma antropologia da dança - que dança, onde as forças de oposição que o dançar caboclinho envolve, contorna a experiência. Uma categoria-chave aqui é a de manobra, via de acesso não apenas à estética, como também à ética de seus movimentos. Como guerras dançadas, os caboclinhos não nos deixam esquecer que o passado é feito de lutas. Como danças de guerra, nos preparam para aquelas das quais ainda não estamos livres de encarar pela frente. Com isso, se quer chamar atenção para as diferentes forças que movem a dança, assim como para as diferentes formas que assumem a luta.