Informações Gerais
Nos últimos anos é possível observar no Brasil e em diferentes países mobilizações políticas que defendem os “direitos dos animais”. Trata-se de movimentos que são contrários a qualquer tipo de utilização dos animais para fins de satisfação dos humanos, reivindicando o fim de toda “exploração animal”. Para tanto, esses grupos se mobilizam principalmente a fim de que os animais sejam incluídos na mesma comunidade moral que os humanos e sejam considerados sujeitos de direitos. Uma parte dessas mobilizações é realizada por professores/ pesquisadores e membros do ministério público que se engajam na elaboração da ética e do direito animalista. Ao focalizar a ação desses atores, o objetivo dessa tese foi o de compreender a elaboração de uma política multiespécie, que visa conferir aos animais a mesma consideração moral atribuída aos humanos. A escolha desse tema tem como referência a discussão antropológica sobre a relação entre natureza e cultura que problematiza a classificação ontológica desses pares conceituais, tendo em vista sociedades que atribuem a eles um significado diverso da classificação moderna. Nesse caso, se o estudo dessas sociedades permite “relativizar o exótico”, a escolha dos defensores dos animais, que colocam em cheque a moderna separação entre natureza e cultura, nos permite “estranhar o familiar”. Portanto, essa tese tratou de um projeto político que analisa criticamente a hierarquia entre seres humanos e animais como valor moderno para pensar o seu oposto que é igualdade entre os viventes. A observação dos fundamentos acionados pelos defensores para conferir legitimidade à ética e ao direito animalista mostrou que esse esforço de igualdade consiste na extensão da condição moral humana aos animais. A utilização do humanismo como parâmetro para a reivindicação do direito dos animais nos permitiu falar de pós-antropocentrismo ao invés de pós-humanismo, uma vez que o descentramento em questão diz respeito não ao humanismo como valor, mas a espécie humana como única entidade biológica merecedora de pertencer à comunidade política.