Este projeto investiga um fenômeno frequentemente reportado entre os povos indígenas que habitam o sudoeste da Amazônia: a existência de um gênero de narrativas históricas constituído por periodizações que estabelecem sucessivos “tempos”, “épocas” ou “eras”. O projeto tem duas metas mais específicas. Primeiro, levantar e sistematizar os dados sobre as concepções do tempo e da história no sudoeste amazônico, e elaborar um quadro teórico parta interpretar a história segmentada e compará-la com outras formas de se narrar a história na região. Uma característica curiosa da região é que, apesar da recorrência de história segmentada, alguns povos não narram a sua história deste modo, a despeito de terem passado por processos históricos parecidos com os dos seus vizinhos. O projeto visa traçar os limites e as razões da segmentação da história e de sua ausência, e aprofundar a análise das concepções do tempo no sudoeste amazônico em diálogo com a literatura antropológica e da filosofia da história. Em segundo lugar, dando continuidade aos meus 17 anos de pesquisa sobre os Kanamari do rio Itaquaí, o projeto prevê uma investigação etnográfica da relação entre os Kanamari do Jutaí e os Tsohom-dyapa do Jutaí-Jandiatuba, visando explorar as concepções do tempo e da história entre estes dois povos. Como a experiência histórica dos Kanamari do Jutaí difere daquela dos habitantes do Itaquai, e ambas diferem da história dos Tsohom-dyapa, povo de recente contato, a meta é desenvolver uma teoria sofisticada da concepção kanamari da história, que possa enriquecer nossa conhecimento do fenômeno no sudoeste amazônica e além.