Faleceu Neide Esterci (1941-2024) e as ciências sociais brasileiras estão de luto pela perda da grande antropóloga, cujo legado, porém, é definitivo para as futuras gerações. Formada em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) em 1965, fez mestrado em Antropologia Social no Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Em 1970, passou a integrar o corpo docente do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ e, em 1985, concluiu seu doutorado em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP). Atuou como pesquisadora visitante na École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS) em Paris e no Institute of Latin American Studies da Universidade de Londres, entre outros.
Seus estudos concentram-se em temas relacionados à escravidão contemporânea, analisando as condições de trabalho análogas à escravidão e as relações entre trabalhadores rurais, políticas agrárias e o desenvolvimento sustentável, estabelecendo conexões entre conflitos socioambientais e processos de desigualdade no campo.
Neide Esterci é um nome central da antropologia contemporânea, com formação e trajetória acadêmica exemplares. Formou muitos pesquisadores e pesquisadoras nas suas áreas de pesquisa, especialmente em temas sobre a Amazônia, de que se tornou especialista e referência obrigatória desde seu doutoramento, posteriormente publicado como _Conflito na Amazônia: Peões e posseiros contra a grande empresa_. Nos anos 2000 dedicou-se com o companheiro de toda a vida, José Ricardo Ramalho, a projetos de cooperação científica e institucional do PPGSA/UFRJ com diversas universidades da Amazônia, visando incrementar especialmente seus programas de pós-graduação.
Soube sempre aliar e amplificar os recursos da sua disciplina às causas sociais mais prementes da sociedade brasileira. Integrou e dirigiu organizações não governamentais da maior importância desde a transição democrática, como o CEDI — Centro Ecumênico de Documentação e Informação —, e, em anos recentes, o ISA — o Instituto Socioambiental. Seu legado vem sendo reconhecido e discutido em eventos recentes, como o Projeto Trajetórias, a Bionota da SBS e o Seminário ‘A contribuição de Neide Esterci para os estudos rurais e ambientais no Brasil’ realizado no IFCS/UFRJ em 2016.
Neide deixa o viúvo, o sociólogo José Ricardo Ramalho, dois filhos, Emiliano e Thomaz Ramalho, respectivamente biólogo e advogado, além do neto Pedro, cantor e compositor.
Entre seus livros, deixa _Territórios socioambientais em construção na Amazônia brasileira_ (2018), _Militância Política e Assessoria: compromisso com as classes populares e resistência à ditadura_ (2017), _Reforma Agrária e Meio Ambiente_ (2003), _Fazendo Antropologia no Brasil_ (2001), _Escravos da Desigualdade: um estudo sobre o uso repressivo da força de trabalho hoje_ (1994) e _Conflito no Araguaia: peões e posseiros contra a grande empresa_ (1987).
Deixamos nossos sinceros sentimentos à família, alunos e inúmeros amigos e amigas.
Seu velório ocorre em 19 de novembro, entre 11h e 14h, no Crematório do Cemitério Vertical Memorial do Carmo, sala 7.
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