Na bibliografia sobre o serviço doméstico, uma pergunta continua em aberto: o que explica a variação na proporção da mão de obra inserida nessa ocupação? A resposta defendida nesta pesquisa é a de que há uma forte relação entre o volume e a configuração do serviço doméstico e a forma como ficou resolvida socialmente, em cada nação, a articulação entre as esferas produtiva e reprodutiva: pela via do Estado, do mercado ou da família. Em cada país, as inter-relações entre esses três atores societais produziram distintos arranjos de mediação produção-reprodução. No Brasil, embora com um regime majoritariamente familista, a possibilidade de delegar às empregadas domésticas uma grande parte dos afazeres de casa, bem como dos cuidados, estabeleceu-se como estratégia viável para as classes médias e altas. No entanto, em 2013, com a aprovação no Congresso Nacional da “PEC das Domésticas”, que estendeu a essas profissionais os direitos já garantidos aos demais trabalhadores, houve um realinhamento desses atores societais e uma modificação do arranjo anterior. Sendo assim, o objetivo desta tese é investigar por que o Estado alterou, especificamente nesse momento, a relação que estabelecera com o serviço doméstico e como o mercado e a família se reorganizaram diante desse novo cenário. Para alcançar tal intento, este estudo utiliza três tipos de fontes. Em primeiro lugar, dados quantitativos: pesquisa da OIT sobre os trabalhadores domésticos no mundo; Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), do IBGE; e pesquisa de opinião do IBOPE. Em segundo lugar, leis, decretos e documentos produzidos nas 99ª e 100ª Conferências Internacionais do Trabalho e durante a tramitação da “PEC das Domésticas” no Congresso Nacional brasileiro. Em terceiro lugar, entrevistas com trabalhadoras domésticas da cidade do Rio de Janeiro e com famílias que contratam esses serviços. Seguindo esse caminho, é possível perceber se houve alguma alteração no regime de cuidados existente no país e com quais características.