O presente trabalho parte de uma descrição da longa e dura transformação nas abordagens da saúde mental no Brasil, que percorre quase dois séculos e que nos levou daquilo que chamamos de "abordagem sanitarista” - orientada pela limpeza do corpo social - através da abordagem psiquiátrica - orientada pela higienização do corpo do doente - para a abordagem integralista. Representada pela Reforma Psiquiátrica, essa nova forma de conceber e tratar a loucura rompe com o paradigma subjacente aos dois momentos anteriores, ambos fundados sobre a segregação e redução da pessoa à sua condição psíquica anômala. Essa periodização inicial nos permite então localizar num espectro mais amplo a atuação de uma instituição em particular, o Centro Psiquiátrico do Rio de Janeiro, palco do projeto Harmonia Enlouquece, que constitui o foco de nossa atenção.