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Esta dissertação tem como objetivo discutir a construção de caminhos alternativos no circuito do comércio internacional de objetos culturais e compreender como a produção desses novos trajetos se relaciona à reprodução de lógicas de poder reunidas na forma da burocracia que supervisiona, autoriza e legitima esses trajetos. Para tanto, a pesquisa, tendo como objeto um procedimento administrativo do Ministério Público brasileiro, examina um caso envolvendo a compra, a doação e o posterior empréstimo de uma coleção de artefatos indígenas brasileiros pelo Museu de História Natural de Lille, na França. Coleção esta que, depois do prazo acordado, ainda encontra dificuldades para ser restituída ao Brasil. O ponto de partida da análise é o contexto em que se insere o comércio internacional de objetos culturais e, principalmente, as estruturas institucionais de museus e outros agentes desse mercado que legitimam lógicas de aquisição ainda muito ligadas ao passado colonial dessas instituições. A partir disso, o trabalho examina os documentos que compõem o processo com o intuito de investigar como as mesmas estruturas legais e burocráticas que protegem o patrimônio brasileiro autorizaram o envio das peças ao exterior, apesar das suspeitas de autoridades competentes, e hoje ainda tentam a repatriação das mesmas. Direcionada pelas antropologia das circulações econômicas, sociologia e antropologia do direito e antropologia do Estado e das burocracias, esta dissertação instiga a análise de um caso denso e complexo que guarda em seus papéis e rotinas as diversas nuances que compõem não apenas o mercado moderno de objetos culturais, mas as antigas relações de poder que se inscrevem nas estruturas estatais e seguem apresentando um enorme desafio às instituições e profissionais que promovem a proteção desses artefatos.

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