O problema central deste projeto é o valor atribuído à heterodoxia das expressões artísticas contemporâneas, cada vez mais almejada por artistas, curadores e críticos, que insistem em retirar a arte de seu suposto pedestal para que ela habite o mundo profano do dia a dia e, assim, possa provocar o espectador, retirando-o de uma atitude passiva diante dos problemas políticos e sociais da atualidade. Com o intento de realizar aqueles ideias, artistas contemporâneos questionam a autoria, os materiais, a temporalidade, os locais de exposição, quebrando convenções e limites, e pondo mais uma vez na ordem do dia a pergunta o que é arte? Em contrapartida à crítica avassaladora da autonomia da arte, observa-se uma intelectualização refinada da chamada arte contemporânea, que se deixa cercar (ou capturar) por inúmeras mediações indispensáveis para se fazer entender e aproximar-se do público. Com o intuito de averiguar se de fato os ideais de proximidade da arte com o público, através do desmantelamento de seus cânones, foi bem sucedida, ou se, ao contrário, levou, paradoxalmente, a um peculiar hermetismo e maior distanciamento, pretende-se percorrer o conjunto de ações e relações sociais que envolvem o trabalho artístico de Adriana Varejão e Ernesto Neto. Este estudo busca desvendar a natureza das mudanças que estão em curso no mundo da arte que, aparentemente, oscilam entre a proximidade e distância, a clareza e o hermetismo, a autonomia e a heterodoxia..