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Apesar de ter sido formulada em um diálogo intenso e constante com autores clássicos e centrais da antropologia, como James Frazer, Émile Durkheim, Marcel Mauss, E. Evans-Pritchard, Victor Turner, Godfrey Lienhardt, e Claude Lévi-Strauss, por exemplo, a teoria mimética ainda não foi devidamente debatida, ainda menos no Brasil, e tampouco sistematicamente confrontada com os recentes desdobramentos teóricos e etnográficos da nossa disciplina. Sugerimos que ela possa ter uma função revitalizadora na investigação de uma série de fenômenos fundamentais para a pesquisa antropológica, sobretudo no campo da etnologia indígena, e este é objeto da presente proposta de pesquisa. Uma primeira etapa da investigação passa por uma reavaliação do modelo da predação ontológica e do perspectivismo ameríndio (cf E. Viveiros de Castro 1996, 2002) à luz da teoria girardiana do mimetismo e do sacrifício. Uma segunda etapa consiste em aprofundar o trabalho, apenas iniciado por Girard, de realizar uma crítica da análise lévi-straussiana do corpus narrativo mitológico sul-americano, reintroduzindo a dimensão da violência e do desejo, expurgada pelo modelo estrutural, mas fortemente presente no modelo da predação ontológica, o que implicaria repensar os temas do totemismo e do ritual nas sociedades ameríndias. Enfim, creio que da conjugação desses dois conjuntos de temas pode resultar em contribuição interessante tanto ao campo mais específico da etnologia indígena, quanto ao domínio mais geral da teoria antropológica.

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