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Durante sete anos acompanhei uma crescente e curiosa rede que articula a Organização Mundial da Saúde, neurocientistas, máquinas de ressonância magnética, protocolos clínicos e políticas públicas. Identifiquei a partir deste heterogêneo conjunto de atores, documentos e máquinas um empenho comum: afirmar que religião e espiritualidade têm um impacto na saúde humana. Este livro trata, a partir de um diálogo com a literatura das ciências sociais, do processo de emergência e consolidação da relevância da espiritualidade para o campo médico. As questões decorrentes deste fenômeno são amplas e consequentes tanto para pensarmos as políticas de saúde como também para o debate feito por pesquisadores da religião. Afinal, vale provocar, se o principal organismo de gestão global da saúde, a OMS, legitima o entendimento de que o humano é invariavelmente um ser espiritual e as pesquisas médico-científicas afirmam que a espiritualidade é um fator determinante para a saúde, pergunto: caberia ao Estado prover cuidados com o espírito? Ou, ainda, negligenciar a espiritualidade não seria, no limite, um descaso de saúde pública? E mais, como o Estado pode operacionalizar a oferta de cuidados com a dimensão espiritual sem ferir princípios como o da laicidade e da liberdade religiosa?

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