O presente artigo discute o discurso da compaixão na literatura contemporânea da saúde, com ênfase em textos sobre o lugar da compaixão nas práticas de saúde e textos sobre a abordagem de saúde pública chamada “comunidades compassivas”. O objetivo é identificar e caracterizar uma política da compassividade e do sofrimento a partir desses discursos. Os textos são selecionados a partir de buscas nas bases Latin American and Caribbean Health Sciences Literature e PubMed e interpretados de acordo com as questões propostas pelo artigo, isto é, a relação entre compaixão, saúde e esfera pública. No primeiro conjunto de textos, destacam-se formas de categorização e mensuração da compaixão na assistência em saúde, e uma terapêutica compassiva. Em confluência com tendências de medicalização e profissionalização, argumenta-se que a compaixão pode ser um novo modo de definição de problemas como do domínio da “saúde” e, portanto, facilita a aparição das especialidades da saúde na esfera pública. Notam-se tentativas de tornar a compaixão um índice mensurável e inteligível do ponto de vista científico, especialmente de acordo com padrões metodológicos das ciências da saúde. Então, desenha-se uma “terapêutica da compaixão” na qual esta parece ser o ingrediente faltante e a possível solução para uma série de problemas sociais além da doença. No segundo conjunto de textos, destaca-se a articulação entre compaixão e comunidade, por meio da qual generaliza-se uma política de compassividade centrada na perda e na morte como experiências universais. Aqui, a terapêutica da compaixão se generaliza e se articula com uma constelação de ideias relativas ao “comunitário” como nível de intervenção em saúde e de organização sociopolítica. Por fim, discute-se as ambiguidades e tensões internas em uma possível política de compaixão e comunidade diante do sofrimento.