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No norte da Patagônia argentina, os Mapuche convivem há algumas décadas com a presença de empresas petroleiras, que produzem um cenário de contaminação e uma série de problemas de saúde nos humanos. Esta tese parte do território, enquanto conceito mapuche, para tratar de uma certa maneira de estar-no-mundo, que inclui as práticas cosmopolíticas envolvidas nas lutas mapuche – com relação às petroleiras ou em outros contextos. A produção de petróleo e de gás é vivida pelos Mapuche como uma das diversas ondas decorrentes da Campanha do Deserto, do século XIX, que levou à ocupação wigka (usurpador, não Mapuche) definitiva da região. O que para os wigka é classificado como passado, algo superado, é vivido como algo do presente pelos Mapuche. Esta continuidade faz parte de uma continuidade mais radical: aquela que se estabelece no território a partir dos fluxos de newen (forças), que interconectam os diversos planos de waj mapu (cosmos). Estas forças se atualizam de distintas formas, mesmo em coisas consideradas não vivas pela metafísica moderna-ocidental. Elas compõem um certo ordenamento do qual os Mapuche fazem parte de maneira ativa, seja através da realização de cerimônias coletivas ou por meio de atos cotidianos. Há uma ética baseada no cuidado e no respeito com relação às forças do território, que envolve estar atento aos seus sinais e outras formas comunicativas, e também uma etiqueta composta por uma série de comportamentos adequados e práticas necessárias. Um desses vários newen que circulam pelo território é o conhecimento. Por mais que alguns Mapuche cumpram um papel central na sua circulação, ele não é algo restrito ao domínio humano. Cada pessoa possui uma origem familiar (kvpan), que a vincula a uma determinada origem territorial (tuwvn). O conhecimento do mundo é então entregue a cada pessoa justamente nesse cruzamento território-família. Assim, apesar de toda a violência wigka ao longo dos tempos, os Mapuche “seguem vivos e de pé” graças a um eterno retorno do conhecimento.

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