Desde o pós-modernismo, a condição animal nunca foi tão sensível, nem tão intimamente ligada à condição humana.O panorama da arte contemporânea testemunha isso através da proliferação maciça de representações animais e, mais ainda, através da iconografia do pathos cristão: a Pietà. Doravante, as representações de Maria segurando oCristo morto nos braços, ao pé da Cruz, transformam-se em feras – amigas ou inimigas, Mãe ou Filho, por vezes ambos simultaneamente. Esta notável hibridez não deixa de nos interrogar. No seio de um símbolo de amor incondicional, sacrifício, injustiça e compaixão, ela torna-se a personificação de uma profunda reflexão sobre as mudanças climáticas e ecológicas em curso – da crise ambiental à crise da consciência artística – e, como tal, configura-se como um sintoma pertinente do Antropoceno. Entre animalidade e humanidade, alteridade e introspeção, etologia e filosofia, política e estética, o objetivo é analisar de que forma as zoo-pietàs da arte contemporânea refletem as novas condições do reino animal nesta era de mutação geológica sem precedentes, irrefutável e irrevogável.
Palestra apresentada em inglês, com tradução